A história recente das praias
Quando a primavera começa a dar as caras e a mudança de horário a acompanha é um sinal de que a estação mais esperada do ano, o verão, está mesmo chegando. As academias começam a lotar, os comerciais de cerveja se tornam mais frequentes e todo mundo vai engordando ainda mais a poupança pra poder viajar no fim do ano. E para onde? Atire a primeira pedra quem não pensou como um dos destinos alguma praia do litoral! De fato, uma pesquisa feita pela empresa de turismo Expedia, no ano de 2013, demonstrou que 77% dos brasileiros apontam a praia como destino essencial de férias.
Mas o que todos vocês - turistas, excursionistas ou moradores - que costumam usufruir destes espaços nem sempre sabem, é que as praias começaram a ser a “galinha dos ovos de ouro” há apenas algum tempo atrás. Nesse nosso tal planeta Terra (que realmente deveria se chamar Água), tudo mesmo é passageiro, até o cobrador, o motorista e... a forma como temos visto as praias!
É, portanto, por causa dessa história que nós começamos a escrever nesse blog. Isso é, devido à evolução do conceito de praia, sol e mar, para a nossa cultura atual.
Era uma vez... Uma civilização europeia, antes das grandes navegações, onde os contos bíblicos dominavam as vilas e o medo imperava no desconhecido. Nessa época, o mar era visto como algo que não existia no paraíso, demoníaco, moradia de monstros e intempéries, caótico e repleto de perigos às pessoas. Somente algumas populações, situadas em penínsulas ou ilhas, que apresentavam uma relação mais amigável com a água salgada.
Porém, o desbravamento de novos horizontes e a chegada a outros continentes por volta do século XVI, fez com que o mar começasse a ser enfrentado e as zonas costeiras povoadas, pelos europeus. Nossa terra canarinha sabe bem disso, com as suas primeiras localidades situadas no litoral já que, especialmente a partir de 1530, o "novo mundo lusitano" necessitava ser protegido de outras nações, e contribuía com alguns de seus recursos pros lados de lá. Convém, inclusive, destacar que apesar de que ocorria essa ocupação litorânea, as casas, em sua maioria, eram feitas de “costas para o mar”, fato que perdurou até aproximadamente o século XVIII.
O interesse pela costa e a curiosidade que esta hoje origina só começa mesmo no fim do século XVII, com os primeiros estudos da oceanografia e com o homem se tornando contemplativo por doutrinas religiosas mais “naturalistas”. É aqui quando a beira-mar recebe outro valor: O de ser vista e apreciada. Posteriormente, a partir da metade do século XVIII, o banho de mar aparece! (Quero dizer... Cabe aqui destacar que os índios usufruiam dessa prática desde tempos mais remotos, com relatos que confirmam o banho de mar indígina desde o século XVI). A ideia do banho de mar girava em torno de seus fins medicinais e do fato de ser recomendado por médicos, primeiramente para as classes mais altas da Inglaterra e França, e depois se estendendo para outros países europeus: Os balneários surgiram, e as caminhadas e a conversa no litoral começam a se popularizar! Aliás, nas Américas, essa expansão também ocorreu e, a moda, transportada aos Estados Unidos pela Inglaterra, iniciou sua difusão para os países mais ao sul.
![Postal de Coney Island, Nova York, EUA - Ano de 1856](https://static.wixstatic.com/media/979245_6f1d6b7ffd754fdcb3c33487311303a2.jpg/v1/fill/w_745,h_510,al_c,q_85,enc_avif,quality_auto/979245_6f1d6b7ffd754fdcb3c33487311303a2.jpg)
Postal de Coney Island, Nova York, EUA - Ano de 1856. Fonte: Reprodução.
![Postal Praia de Pocitos, Montevidéu, Uruguai - Ano de 1910](https://static.wixstatic.com/media/979245_68a3d9c55113408c845e013c6e592142.jpg/v1/fill/w_640,h_415,al_c,q_80,enc_avif,quality_auto/979245_68a3d9c55113408c845e013c6e592142.jpg)
Postal Praia de Pocitos, Montevidéu, Uruguai - Ano de 1910. Fonte: Reprodução.
Nos dias atuais, o banho de mar já é inconcebível sem o banho de sol (Até hoje não consiguimos entender como o Claudinho e o Buchecha não compuseram algo como: “avião sem asa, fogueira sem brasa, dia de sol sem ir à praia, sou eu assim sem você...”). E, tudo isso porque, no final do século XIX, a praia definitivamente assume o papel de fonte de “curtição” e, logo depois, o sol também se evidencia como benéfico à saúde, em conjunto com uma maior industrialização e acessibilidade às cidades litorâneas. De lá até os anos 50, toda essa valorização vai ocorrendo de forma muito tímida até que os anos 60 chegam, com todas as suas demais modificações. É aqui que os fluxos turísticos ao litoral - que perduram até os dias atuais - se concretizam!
![Propaganda de ônibus, de São Paulo a Santos (SP) - Ano de 1947](https://static.wixstatic.com/media/979245_31ca694bc48e480baa14565261a326a0.jpg/v1/fill/w_405,h_629,al_c,q_80,enc_avif,quality_auto/979245_31ca694bc48e480baa14565261a326a0.jpg)
Propaganda da empresa de ônibus Auto-Viação, com viagens de São Paul (SP) a Santos (SP) - Ano de 1947. Fonte: Site Propagandas Históricas.
![“Don’t be a paleface!”: Anúncio do protetor solar Coppertone – Década de 50](https://static.wixstatic.com/media/979245_4c57ee55ffc4411dba37e3f8933e38f6.jpg/v1/fill/w_500,h_321,al_c,q_80,enc_avif,quality_auto/979245_4c57ee55ffc4411dba37e3f8933e38f6.jpg)
“Don’t be a paleface!”: Anúncio do protetor solar Coppertone – Década de 50. Fonte: Reprodução.
Para finalizar (que daqui a pouco vamos pegar uma prainha), precisamos dizer que presentemente se reconhece que as praias possuem um valor ambiental e de proteção costeira importantes, e trazem benefícios socioeconômicos às comunidades litorâneas. Além disso, são também inspiração para o desenvolvimento de uma cultura associada a elas, traduzida através da arte, música, literatura, cinema, consumo e comportamento. Quem aqui não conhece Jack Johnson (músico), Clark Little (fotógrafo), Ripcurl e Farm Rio (marcas de roupa)? Ou, não tenha visto o filme A praia e tenha vibrado com a conquista do WCT pelo brasileiríssimo Medina?
![Maya Beach, Tailândia, a praia do filme A Praia, lançado em 2000](https://static.wixstatic.com/media/979245_77c7d8897d074a8294c6f7719b5562a8.jpg/v1/fill/w_800,h_348,al_c,q_80,enc_avif,quality_auto/979245_77c7d8897d074a8294c6f7719b5562a8.jpg)
Maya Beach,Tailândia: A praia do filme A Praia, lançado em 2000. Fonte: Reprodução.
Cartaz de Festival de Surf, Califórnia, EUA - Ano de 2010. Fonte: Reprodução.
Em vista disso, nessa e nas próximas temporadas, não lembrem somente de passar o protetor solar, mas também de cuidar da praia como se fosse sua. Aliás, por lei, elas realmente são determinadas para o uso público!
Fontes:
Praia é destino de férias essencial para 77% dos brasileiros. Em: http://viagem.uol.com.br/noticias/2013/09/25/praia-e-destino-de-ferias-essencial-para-77-dos-brasileiros.htm.
Alveirinho Dias, J. (2014). Aulas de História Física e Humana das Zonas Costeiras. Programa de pós-graduação em Geografia. Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC.
Corbin A. (1988). O território do vazio: A praia e o imaginário ocidental. São Paulo: Editora Schwarz Ltda.
Williams, A, Micallef, A. (2009). Beach management: principles and practice. London, Canadá: Editora Earthscan, 455pp.
Sabel C. en Urry J. (2001). O Olhar do turista: lazer e viagem nas sociedades contemporâneas. Tradução: Carlos Eugênio Marcondes de Moura, 3a edição. São Paulo: Studio Nobel, SESC. Título original: The Tourist Gaze. Leisure and travel in contemporary societies.
MinTur - Ministério do Turismo (2010). Turismo de Sol e Praia: Orientações Básicas. Brasília, 2ª Edição, 59pp.
Martins M.B., Vasconselos F.P. (2011). Desafios para o desenvolvimento sustentável da zona costeira. Revista Geográfica de América Central n° especial EGAL, 1-12.